Em Maio de 1973, Manuel Rodrigues Lapa publicava na Revista Colóquio/Letras “A recuperação literária do galego”, artigo que também seria reproduzido, pelo seu interesse para o público galego, no Grial, 41, (julho-agosto-setembro, 1973).
O escrito de Lapa baliza um antes e um depois na história do galego moderno e define a orientação do reintegracionismo atual.
A análise de Lapa estava motivada pelos claros indícios (e no testemunho dos daquela novos Xavier Alcalá, Carlos Durão, Teresa Barro) de uma acelerada destruição do galego como língua social. A isto havia que juntar a constatação, na sua opinião, do estancamento estilístico, dos modelos linguísticos, da produção literária galega das décadas de 60-70.
O artigo questionava, não apenas o discurso otimista e perceção piñeirista do momento “esperançador” da realidade galega presente nas instituições, mas também a estratégia lenta de re-integração futura (e continuadamente adiada) e, logicamente, o modelo, a propaganda e o discurso “político” de Piñeiro sobre a língua: a “normalização” possível do galego, passinho a passinho e bem passeninho, sem conflitos e procurando uma representação muito enxebre, no fim do Franquismo e na possível Transição.
O texto destacava, contra essa idílica perceção promissora e bucólica, a possível desaparição do galego, como língua na Galiza, em poucas décadas; a problemática da introdução da língua galega no ensino, dentro do esquema “tolera, mas não promove” governativo espanhol; e a situação congelada do galego como língua literária.
E aconselhava, seguindo Guerra da Cal e na tradição já exposta por Manuel Murguia, como mais adequada para uma redefinição, a opção portuguesa, considerando a integração ortográfica no português, como solução possível imediata para o galego escrito.
A tese proposta por Lapa não era nova, mas a sua formulação como imediata, urgente e necessária, sim. O prestígio académico, intelectual e institucional do emissor pesava. A sugestão foi recebida com surpresa e não pouca hostilidade, mas a virada também foi recebida com interesse e atenção por gentes diversas, entre as que se encontrava, por exemplo, Ricardo Carvalho Calero.
Talvez em 1973, a gente de letras, na Galiza, não estava preparada para a proposta de Lapa. Escrever o galego em português apenas podia ser uma aventura de uma elite académica, intelectual minoritária.
Hoje, estamos em 2020, em plena globalização e na era de Internet as análises de Lapa continuam vigentes, a sua olhada crítica resultou mais certeira que a de outros e a sua recomendação continua sendo realista, atrativa e factível.
“A recuperação literária do galego”
Revista Colóquio/Letras. Ensaio, n.º 13, Maio 1973, p. 5-14,
Grial, 41, julho-agosto-setembro 1973